domingo, 22 de fevereiro de 2015

Da tua permanência:

Fica! 
Te faço um poema
Serei sua pequena,
seu ar, sua fuga,
seu riso, sua lua.

Fica! 
Te faço mil versos
Te beijo e regresso
a beijar o teu corpo
Linha por linha 

Fica! 
Te amo pela manhã,
à tarde te amo de onde estiver, 
fecho meus olhos e sou sua mulher

Fica! 
Te entrego meus medos
Não guardo segredos
Te faço conhecer todos os meus desejos

Fica! 
Não pensa em sair 
Fique bem aqui
Só peço que ame
a mulher que te ama

Fica, deita na minha cama
E faça desse minuto uma estação
E de cada estação faça nosso lar

Fica! Fica do jeito que dá
E eu dou tudo que puder pra facilitar

Sou teu corpo, teu copo,
tua chama e tua bebida, 
toma um gole de mim. 
Fica e me brinca!

Fica e eu fico mais calma, serena, tranquila 
Porque se tenho você 
me sorri 
escancarada 
a Vida. 

Então, não pensa, vá,
apenas fica! 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Poeminha

Vou te fazer um poema bonitinho
Todo rimadinho
Pra bem devagarinho
Você ler em qualquer cantinho

Um poema ajeitadinho
Com versos todos arrumadinhos
Que vão acalmar seu coraçãozinho
Que de tão só, sozinho
não encontra um caminho

Mas vou te mostrar bem direitinho
Um lugar que guardei com carinho
Bem bem guardadinho
Onde caberá você todinho

E então abriremos uma garrafa de vinho
E com mil beijos, meu amorzinho
Te darei minha vida toda como um ninho

Ficaremos pra sempre grudadinhos
Feito dois passarinhos
E a Vida, coberta de amor, sorrirá para nós.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Bobeira é mesmo essa vida levada tão a sério...

Hoje decidi postar não um poema meu, mas um texto de uma das autoras que mais me confunde, a maravilhosa Clarice Lispector - de verdade, o texto é dela mesmo. Este texto sintetiza pra mim uma verdade: ser bobo é ser feliz! Diferente daa maioria dos textos da poeta, este é de fácil leitura e fácil compreensão; afinal, ser bobo é geralmente ser leve. Vamos lá:

Das Vantagens de Ser Bobo


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." 



Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. 



O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. 



Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. 



Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?" 



Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! 



Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. 



O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem. 



Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! 



Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. 

E só o amor faz o bobo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Autônomos versos

Declarei greve!
(Como se fosse lei tudo que digo em momentos de desespero)
Quis fazer um verso
Porém me faltaram palavras afins
Quanta audácia minha pensar
Que poeta controla versos
que simulariam uma combinatória

Poeta é só desses que escrevem
Lamúrias e felicidades
transitórias
Saudades e memórias que
como Pessoa diz: deveras, nem sente
Finge... Contente!

Que pobre poeta que sou!
Tenho tanto em tão pouco
Estrofes que faço e nem a mim pertencem
Quando lhes imploro  - no silêncio - que apareçam
Elas riem de tão independentes.

Exclamo:
Greve de fome,
de risos, de choros...
De espírito, de riscos
E dores
De amores...
Greve de tudo!
Mas jamais de poesia
Pois ainda que eu tentasse
De modo algum conseguiria

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sufoco

As cartas que se dão geralmente amarelam.
As fotos rasgam.
As horas de uma conversa se vão facilmente.
A vida fere a gente.
A correria nos suga.
A ideia de estar aqui, a todo tempo, vivendo, é assustadora
demais pra nós.

Queríamos segundos que parassem
e olhares que gritassem

mas calamos
Cansamos
E nada é como queremos.


Sobre começar a fazer um poema esmagada num transporte público:

Ps. Como foi escrito no meu celular, a diagramação do poema não está correta.


No metrô
De tantos corpos necessitados
De tantas gentes cansadas na volta fatídica do trabalho, na volta expectante para a casa
Estou Sozinha
Apesar de bilhões de fios de cabelo que me cercam
De bilhões de células que trabalham sem parar e eu, a olho nu, as observo
Apesar
De alguns pares de olhos parecerem mirar somente a mim

Sei bem que
Nenhum corpo transpassaria o meu
Nenhum corpo me tocaria
Não importa se há vários corpos
Nenhum deles conseguiria atingir o perímetro que apenas você alcançou
Nenhum deles chegaria em extremidades que apenas sua boca beijou
Nenhum deles conheceria o ponto em que gravei seu nome, não com objetos pontiagudos, tampouco à tinta... Aquela curva em meu corpo que sacramentamos seu nome...
Nenhum corpo dentre todos esses corpos me faria sorrir plenamente como sorrira antes quando nossos corpos eram um só.

Não há corpo
Não há copo
Não há como
Só derramo

E estou só.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Rio de Janeiro, 25 de maio de 2013.

Cá estou, tamanho é o dever
que meus versos impõe
Papel com espaço em branco
Tinta de qualquer cor
Uma vocação: unir letras em palavras
Palavras em versos
E, deveras, escrever.

Cá estou, como onda
que, periodicamente, é controlada
Pelo fluxo da maré
Total controle as palavras têm
Sob todo meu pensar

Cá estou, em versos, rimas,
sonetos e tinta
Posto que assim me encontro
Em pequenos rabiscos certeiros
Desvencilho o que fui
do que sou

Cá estou, unicamente cumprindo
meu papel:
Sou poeta, é sentença!
Da poesia sou réu.

Cá estou, tão somente
Deslumbrada do encanto destes.

Cá estou
E aqui,
nestes versos, permanecerei.